Elemento Fundamental : Arte Grafite

Traços coloridos em um corpo de pedra: Arte Grafite por juny kp! eusou@junykp.com.br

Hip Hop - com maiúsculas sempre - é o conjunto de quatro formas artísticas distintas chamadas de elementos. Daí a sua complexidade, uma cultura híbrida, sempre em movimento, em evolução constante. Estas formas artísticas foram surgindo no ambiente urbano de Nova York, cidade dos Estados Unidos, na passagem dos anos 60 para os anos 70. O termo foi criado pelo então DJ Afrika Bambaataa, fundador da organização Zulu Nation, referindo-se ao movimento dos quadris.

Arte Grafite, Grafiti, Graffiti, Aerosol Art - Expressão artística estética que utiliza como meio a lata de spray e se desenvolve no ambiente urbano. A Arte Grafite reflete a rua. Seu dinamismo, sua duração suas cores. É válido ressaltar que a Arte Grafite Hip Hop difere de Arte Mural, de Aerografia em muros e dos Afrescos. Os temas são outros, as técnicas também. Coube aos brasileiros, uma inovação: a introdução da tinta látex na feitura do Grafite Hip Hop. Americanos e europeus nunca imaginaram utilizar esta tinta em seus trabalhos.

Mesmo que de maneira não definitiva e ainda repleta de arestas dividiria a Arte Grafite em "Grafite Hip Hop" e o "Grafite Acadêmico". No primeiro, os elementos presentes são as letras e as personagens caricatas presentes em um cenário com influências fortes dos quatro elementos da Cultura Hip Hop e o uso predominante da tinta spray. Na segunda estão as "máscaras" (stencil art) e dos Murais, sendo geralmente, praticadas por pessoas que não possuem vínculos com a Cultura Hip Hop e sim das escolas de Arte e autodidatas e boêmios. Entretanto existem artistas que utilizam o spray como instrumento mas não pintam temas relacionados à Cultura Hip Hop.

Grafiteiro, escritor, writer - Pessoa que manipula a lata de spray na realização dos Grafites.

Tag, assinatura e/ou Pixação - Tanto pode ser a assinatura do autor de um Grafite, como a assinatura solta pelos muros. Também se refere ao ato de "pixar" (com x). Pixar é expressar e popularizar uma nome, um pseudônimo, uma marca. Geralmente ocorre na fase

Bomb - É a evolução seguinte à do Tag. As letras são preenchidas e possuem 2 cores.

Gostaria de deixar claro que "Grafite" pode ser visto de uma forma bem mais abrangente que a atual. Ela existe desde a Pré-História, passando por Pompéia, pela revolução mexicana na década de 30, pela 2ª Guerra Mundial, formando o Hip Hop no final dos anos 60. Historicamente o assunto é muito maior do que pensamos.

Entretanto, neste texto continuarei comentando especificamente o ambiente e características do Hip Hop e sua formação. Fechando, desta forma, os "quatro elementos" fundamentais da Cultura Hip Hop.

Taki 183 é visto como o primeiro que ganhou fama com o Grafite (ou ainda era Pixação?) em Nova York/EUA. Vivendo num ambiente onde o Grafite/Pixação já vinha sendo utilizado por gangues para fins de demarcação de território e propaganda, Taki 183 lança seu primeiro Grafite/pixação em um caminhão de sorvete no verão de 1970 inspirado por um outro nome, de "Julio 204".

Mas antes dele, Cornbread e Cool Earl já faziam história na Filadélfia/EUA, como ficou registrado pela revista Philadelphia Inquirer Magazine, em maio de 1971. Além das gangues, o Grafite/Pixação fazia parte de atividades de protesto, como uma forma de expressão direta e rápida.

Com o crescimento do número de Grafiteiros/Pixadores, o próximo passo era buscar se diferenciar dos demais. Num primeiro momento todos os tags eram parecidos. Começam a surgir, setas, asteriscos, estrelas e símbolos que marcassem um estilo próprio. Era necessário dar uma valor artístico maior às letras. A evolução natural levou as letras a ganharem novos contornos, novas formas e cores. Assim surgiram os estilos Bubble (letras mais cheias e arredondadas), Broadway (letras em blocos), Mechanical (inspiradas em metais) e Wild Style (estilo mais complexo onde as letras se fundem formando uma nova composição estética).

O surgimento dos marcadores (canetas com pontas de 1cm a 5 cm) ajudou que os tags fossem multiplicados com uma velocidade incrível. Sua tinta não saia com facilidade e o tamanho de uma caneta ajudava no uso, podendo guardar no seu bolso sem problemas.

O Metrô foi o maior aliado na divulgação desta nova forma de intervenção urbana. Ao pintarem um vagão em determinado bairro, eles sabiam que este vagão passaria por todas as linhas, em todos os cantos da cidade.

Hugo Martinez, ao criar o grupo chamado United Graffiti Artists estabeleceu um novo padrão à Arte Grafite. Neste projeto eram encontrados os melhores de Manhattan, Bronx e do Brooklyn. A eles eram dadas a oportunidade de trabalhar como um grupo e com metas visando uma melhor educação para os próprios artistas e para demais interessados. Com a UGA, Hugo realizou a primeira Exposição de Arte Grafite na faculdade City College em Nova York. No ano seguinte, a Razor Gallery expôs 20 telas gigantescas feitas por membros da UGA estabelecendo a ponte entre os Grafiteiros e o mercado de arte novaiorquino.

Gostaria de registar alguns do "primeiros" mestres da Arte Grafite: Super Kool 223, Stay High 149, Topcat 126, Barbara, Eva 62, Lee 163d, Phase II, Tracy 168, Julio 204, Taki 183, Lady Pink formando a primeira leva do Grafite norte-americano.

Como dito anteriormente, as linhas do Metro eram os pontos mais cobiçados pelos Grafiteiros/Bombers/Pixadores. Após 15 anos de combate, as administrações da cidade de Nova York conseguiram extinguir com as intervenções no dia 12 de maio de 1989. Foram 150 milhões de dólares gastos em limpeza e segurança somando mais de 80 mil horas de trabalhos limpando vagões. Se por acaso aparece um Grafite hoje em um vagão, este é imediatamente removido e limpo. O fim dos Grafites nos metrôs afetou e muitos os jovens que estavam na ativa e viam os túneis e vagões como seu meio de comunicação com o mundo externo.

Foi Superkool 223 que descobriu que ao usar bicos de perfumes, venenos e outros produtos o traço poderia variar se tornando mais espesso ou mais fino. Nos dias de hoje, os Fat Caps (grossos) e os Thin Caps (finos) são vendidos por revistas especializadas em Grafite.

Os trens são outro suporte onde o Grafite é bastante executado. A comunicação neste caso, deixa de ser apenas "dentro da cidade", passando a ser "entre cidades". Os pátios são invadidos e lá os Grafites são feitos.

Primeiro os Tags (Pixo/Assinatura), depois os Throw-ups (vômitos, letra contornada com cor de preenchimento), em seguida vieram os Pieces (trabalhos mais elaborados tanto nas linhas como nas cores). Assim foi a evolução das linhas do Grafite. Depois surgiram as Produções (trabalhos complexos com um contexto único amarrando todo o Grafite).

No início dos anos 80 uma segunda geração surge entrando em galerias de arte de renome e fazendo turnês pela Europa. Dondi, Futura 2000, Ladi Pink, Blade, Fab 5 Freddy e Lee Quiñones levaram a Arte Grafite para a Mídia. O cinema foi um grande impulsionador nesta época. Os filmes Beat Street e Wild Style bem ou mal divulgaram a Cultura Hip Hop por todo o mundo. Também os livros Subway Art e Spray Can Art serviram como guia para os interessados de outros continentes.

A Europa, hoje, é rica em Grafitieros de renome mundial como Daim, Loomit e Mode 2, só para citar alguns. E não só a Europa, mas em todos os continentes a Arte Grafite está presente e evoluindo sempre. Cada país coloca uma pitada de sua cultura enriquecendo o Grafite e os demais elementos da Cultura Hip Hop.

A Internet tem papel importante ao estabelecer um diálogo, uma conversa forte entre todos os jovens do mundo que queiram falar, ver, estudar e discutir sobre a Arte Grafite e a Cultura Hip Hop.

O "crime", a arte, a atitude: palavras abstratas

O que poderia ser a arte Grafite? Seria a utilização daquele pequeno torrão composto do material de mesmo nome sobre o retangular papel canson? Seria, ainda, a técnica de desenho a qual utilizamos lapiseiras 0.5 ou 0.7? Será?! Vou dar uma dica então: Seu suporte (região a ser preenchida) é, na maioria das vezes, de tamanho superior ao do próprio autor. Adivinhou?!!?

Pois bem, estou aqui para tentar explicar a você. Grafite é arte da rua e para a rua. Seu mundo, seu reino são os centros urbanos; seu suporte, os muros e as paredes. O Grafite, a que me refiro, tem como forças motrizes a cor e a forma. Cor que lhe dá vida, luz e movimento; forma, mágica e refinada, com o dom de absorver seus sentidos visuais, levando-nos a refletir sobre seu significado (quando há alguma significação).

Posso afirmar que Grafite é estética. A estética do (in) compreensível, do complexo, do (in) inteligível, do impacto. Jatos de tinta vão perdidos no espaço até alcançar seu destino: a superfície: porosa, lisa, irregular, macia. Não importa. Importa sim, o resultado final obtido. O que parecia manchas coloridas, transforma-se em um só elemento: atraente, portentoso, único. O Grafite.

Passar...Olhar...Estranhar...e não ver mais. Nos dias seguintes, o fluxograma se repete. Só que o fascínio, crescente dia após dia, começa a realçar o seu olhar, e com o passar do tempo (caso dê tempo) você começará a perceber o que aquele enigmático emaranhado de traços e formas pode significar.

Falo do tempo, pois o Grafite é frágil. Do mesmo modo que aparece, pode desaparecer. Vem e vai. O meio urbano, onde vive, assim rege. No momento em que se começa a desvendar seus enigmas...ele pode sumir, apagar. Ou melhor, ser apagado. Ora por uma neutra e atraente camada de tinta branca, ora, por outro Grafite. E assim se inicia mais um ciclo de metamorfoses, na tentativa de "ler" outro mágico conjunto de formas e cores denominado Grafite.

Este constante risco de não mais encontrar aquele desejado Grafite é a peça fundamental na constituição de seu caráter. Sua constante mutabilidade interage com a mutação dos grandes centros urbanos. Assim, com o crescer das cidades, os Grafites se espalham mais e mais a cada dia.

Escrito por juny kp!

eusou@junykp.com.br


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